A transformação do trabalho de pescadores artesanais em guias de turismo ecológico está mostrando resultados impressionantes em Guapimirim e Magé, no Rio de Janeiro. Com a preservação dos manguezais na Baía de Guanabara, que têm sido palco de um turismo comunitário em crescimento, pescadores locais estão diversificando suas atividades e incrementando suas rendas. Este modelo de “Economia do Mar” já está consolidando o ecoturismo e a geração de renda em várias comunidades tradicionais no sudeste, e Alagoas, com uma vasta costa e ecossistemas marinhos diversificados, apresenta potencial para adotar essa abordagem em benefício de suas comunidades e do meio ambiente.
Conservação dos manguezais: uma oportunidade econômica
Os manguezais são berçários de biodiversidade, essenciais para a reprodução de espécies marinhas e importantes reservas de “carbono azul” — termo que se refere à capacidade desses ecossistemas de armazenar carbono e reduzir as mudanças climáticas. Em Alagoas, regiões como o Complexo Estuarino-Lagunar Mundaú-Manguaba e áreas costeiras próximas a Maragogi e Piaçabuçu poderiam se beneficiar diretamente com iniciativas de turismo ecológico e conservação de manguezais.
Inspirando-se na experiência do Rio de Janeiro, onde comunidades estão usando o conhecimento tradicional para promover um turismo sustentável, Alagoas tem o potencial de inserir pescadores locais em atividades como passeios de caiaque, caminhadas ecológicas e visitas guiadas aos mangues, práticas que podem se tornar atrativos turísticos, além de preservar o ecossistema costeiro.
Turismo de base comunitária: geração de renda e valorização cultural
O conceito de turismo de base comunitária, promovido por lideranças locais do Rio de Janeiro como Lucimar Machado, oferece uma experiência autêntica, que valoriza o conhecimento e os recursos locais. Em Alagoas, pescadores e artesãos de diversas comunidades poderiam liderar essas atividades, oferecendo aos visitantes a oportunidade de conhecer o trabalho tradicional da pesca artesanal, a coleta de caranguejos e até a produção de artesanato feito com materiais naturais.
Além disso, iniciativas de ecoturismo e a venda de produtos típicos, como o artesanato de conchas e escamas de peixe, podem proporcionar uma renda extra para muitas famílias. Projetos dessa natureza também ajudam a desmistificar estigmas comuns sobre os manguezais, vistas muitas vezes como áreas “sujas” ou “abandonadas”.
Bioeconomia e crédito de carbono: o valor dos manguezais alagoanos
Assim como a Baía de Guanabara, os manguezais alagoanos poderiam participar de um mercado global em expansão: o mercado de créditos de carbono. Esse mecanismo permite que grandes poluidores compensem suas emissões de gases de efeito estufa ao investir em projetos que capturam carbono, como a preservação e o reflorestamento de manguezais.
O potencial econômico desses créditos é vasto: estudo da ONG Guardiões do Mar, que atua no Rio de Janeiro, estimou que a preservação dos manguezais brasileiros poderia injetar bilhões na economia. Se Alagoas participar desse mercado, os recursos poderiam ser investidos em projetos socioambientais para as comunidades locais, ajudando-as a desenvolver infraestrutura de turismo ecológico e aprimorar as técnicas de conservação e recuperação dos manguezais.
Educação ambiental e fortalecimento da consciência ecológica
A experiência de Guapimirim e Magé também destaca a importância de educar o público sobre a relevância dos manguezais. Em Alagoas, a implementação de programas de educação ambiental voltados ao turismo seria fundamental para sensibilizar tanto a população local quanto os turistas sobre a importância de não poluir essas áreas e de cuidar dos resíduos para evitar que sejam carregados para os rios e praias.
Parcerias com escolas, universidades e ONGs alagoanas podem enriquecer esse processo, promovendo eventos de conscientização e educação ecológica, além de oferecer capacitação para as comunidades locais interessadas em adotar o ecoturismo como fonte de renda.
Economia do Mar e Meio Ambiente se complementam
A preservação e o uso sustentável dos manguezais de Alagoas oferecem um caminho promissor para o desenvolvimento socioeconômico da região, assim como para a conservação de ecossistemas fundamentais para a biodiversidade e o equilíbrio climático. Inspirado nos exemplos do Rio de Janeiro, o estado de Alagoas pode transformar a “Economia do Mar” em uma estratégia viável e sustentável, que valoriza a cultura local, gera novas oportunidades de renda e contribui para um futuro ambientalmente responsável.
Com uma política bem planejada e o engajamento das comunidades locais, Alagoas tem o potencial de se tornar referência em ecoturismo e preservação dos manguezais no Brasil. Esse modelo pode ser o primeiro passo de uma caminhada sustentável, onde os conhecimentos tradicionais, aliados à ciência, abrem novas perspectivas para a economia e o meio ambiente do estado
Com informações da Agência Brasil